A emocionante “Ronda das almas” em Luang Prabang

A emocionante “Ronda das almas” em Luang Prabang

Confesso que o vídeo abaixo foi feito por acaso. Eu havia acabado de chegar da rodoviária, após pegar um ônibus de quase 17 horas de Chiang Rai, na Tailândia, para Luang Prabang, antiga capital do Laos. Era por volta das 5 horas da manhã. Bati na porta do hostel e uma plaquinha me avisou que a recepção só abriria dali a algumas horas. Sem ter muito o que fazer, fiquei sentada na esquina. Observei que, aos poucos, turistas e locais começavam a se aglomerar do outro lado da calçada. Ajoelhados sobre esteiras de palha, um ao lado do outro. Eu estava prestes a presenciar a tradicional “Ronda das almas”, tak bat ou sai bat, ritual budista de doação de alimentos aos monges.

O ritual

Acontece todas as manhãs, quando o céu ainda está escuro. Descalços e carregando potes metálicos, os monges vão às ruas receber doações de comida. A cerimônia é rápida e acontece nas proximidades dos templos, espalhados pela cidade. Os fiéis servem a comida com as próprias mãos. Geralmente, arroz ou sobras da refeição do dia anterior. Há ainda quem ofereça frutas e bolachas (biscoitos, para os leitores do RJ). Não importa se os temperos combinam ou se a comida está fria. Qualquer “punhado” de alimento é recebido com gratidão.

Essa mistura toda costuma ser a única refeição do dia dos monges. (Alguns templos recebem doações extras de mantimentos. A maioria, não.) Os budistas acreditam que, ao doar alimentos ao monges, ganham méritos e bençãos. Para os monges, trata-se de um exercício diário de humildade e desapego.

Sinamsivilai, de 16 anos, estuda para tornar-se monge em Luang Prabang (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
Sinamsivilai, de 16 anos, estuda para tornar-se monge em Luang Prabang (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)

Turistas e fiéis aguardam a fila de monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
Turistas e budistas aguardam a passagem da fila de monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)

A “Ronda das almas” acontece em diversas cidades. A vantagem de acompanhá-la em Luang Prabang é que, por ser uma cidade pequenininha lotada de templos (são mais de 30), fica mais fácil ver o ritual de perto – sem multidão de turistas.

Falando nisso…

Cuidado para não atrapalhar o ritual ao se aproximar demais dos monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
Cuidado para não atrapalhar o ritual ao se aproximar demais dos monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)

Respeite o ritual

Por mais diferente que este ritual seja para a nossa cultura, a “Ronda das almas” não é uma atração turística. Trata-se de um ritual religioso importante. Precisa ser respeitado. Vai dar vontade de chegar bem perto, mas o bom senso deve falar mais alto. Infelizmente, vi muitos turistas colocando a câmera quase que no rosto dos monges, tirando fotos com flashs, selfies (?) e falando alto. Pela reação da senhorinha laosiana que estava ao meu lado, esse tipo de comportamento deve ser tão rotineiro quanto o ritual em si.

As doações costumam ser a única refeição do dia dos monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
As doações costumam ser a única refeição do dia dos monges. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
Monges moram em locais como este, ao redor dos templos. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)
Monges moram em locais como este, ao redor dos templos. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)

Como participar

Qualquer um pode participar da “Ronda das almas”, desde que seja algo realmente significativo. Basta arranjar um lugarzinho, ajoelhar-se e aguardar a fila de monges passar. O ideal é comprar comida de vendedores dos mercados de rua na noite anterior, já que prepará-la no hotel não é muito prático. Uma alternativa são os kits vendidos por ambulantes, ali na calçada mesmo.

Existem algumas regras para participar do ritual. Joelhos, ombros e colo devem estar cobertos. Os pés, descalços. Não tente conversar ou tocar nos monges. Vivencie a experiência em silêncio. Garanto que vale a pena “madrugar” pelo menos um dia na viagem para acompanhar este ritual tão bonito!

(Foto: Nathalia Tavolieri)
Após assistir ao ritual, tome café nas barraquinhas de comida na rua principal. Tem opções bem “ocidentais”. (Foto: Nathalia Tavolieri / Viagem em Detalhes)

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Nathalia Tavolieri

Nathalia Tavolieri

Jornalista vivendo em Bonn, na Alemanha. Adora o friozinho na barriga ao pisar em rodoviárias, aeroportos e estações de trem. Aprendeu a gostar de viajar sozinha, com mochilão, sem muito roteiro. Vai compartilhar suas descobertas, perrengues e surpresas boas em viagens - como esses elefantes fofos da foto!

2 respostas

  1. Que bacana Nat! Infelizmente não deu pra incluir Laos na minha trip, mas vou guardando as dicas pra uma próxima!
    PS: é biscoito, e não bolacha! Haha

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